"... dou conta (...) que não podemos vencer esta batalha para salvar espécies e ambientes sem criarmos um laço afetivo com a natureza, pois não lutaremos por salvar aquilo que não amamos (mas só apreciamos de um modo abstrato)"

Stephen Jay Gould, 1993



O final do ano letivo aproxima-se...

Durante o mês de maio fizemos várias saídas de campo. Tivemos também uma sessão na escola para atualizarmos os cadernos de campo. Muitos foram os nossos focos de interesse: observação de aves, estudo de plantas e prospeção de vertebrados e invertebrados, terrestres e aquáticos.

Ir para o campo e desenvolver trabalhos de pesquisa é também usufruir da natureza e partilhar essa sensação de bem-estar com os amigos...

No Clube de Ciências estudamos a natureza ao mesmo tempo que usufruímos da sua beleza.
A camaradagem e o sentido de entreajuda fazem parte do espírito do clube!

O estudo das aves da trilha prolonga-se ao longo do ano letivo. Só assim conseguimos perceber quais são as espécies residentes (aquelas que permanecem na região durante todo o ano) e aquelas que frequentam a região por um período limitado de tempo, como acontece com as visitantes de inverno, visitantes de verão ou ainda com as visitantes acidentais.
O estudo das aves da trilha prolonga-se ao longo do ano letivo. 


Durante o mês de maio fizemos a única observação de milhafres-pretos (Milvus migrans), dois indivíduos que provavelmente passaram por cá numa rota migratória. São exemplo de uma espécie que é visitante acidental nesta região.
Para além das espécies já observadas anteriormente (ver AQUI) acrescentamos mais algumas à nossa lista deste ano letivo:

- Verdilhão (Carduelis chloris)
- Lugre (Carduelis spinus)
- Chapim-azul (Cyanistes caeruleus)
- Chapim-carvoeiro (Periparus ater)
- Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica)
- Pega-rabuda (Pica pica)
- Alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea)
- Milhafre-preto (Milvus migrans)

Com a chegada do calor surgiram milhões de insetos que povoaram os campos em volta da trilha. Como seria de esperar, os elementos do clube prestaram-lhes a devida atenção.
Só com muita atenção se conseguem observar muitos destes espantosos animais que são verdadeiros mestres da camuflagem.
Algumas das espécies de insetos têm um importante papel no processo de transporte de pólen (polinização). Podemos mesmo afirmar que são os principais agentes polinizadores.

O trabalho de prospeção de animais levou-nos a percorrer campos e matas na região envovente da Trilha da Serra de Canelas. Localizámos antigas tocas de texugo e observámos diversos invertebrados, principalmente insetos e aranhas. Fizemos também pesquisa de animais aquáticos com auxílio de redes. Conseguimos observar uma rã-verde (Rana perezi) e diversos girinos.
As equipas do Clube de Ciências encontraram diversas tocas de texugo que fazem parte da rede de galerias escavadas por estes animais que vivem em comunidade.

Pesquisa de animais aquáticos.
O treino do estudo das plantas começou a dar os seus frutos. A sua identificação até ao género ou, em certos casos, até à espécie, prosseguiu com muito mais eficácia.
A metodologia de trabalho permaneceu a mesma: dois elementos pesquisam e propõem em conjunto a identificação de uma dada planta.
Durante o estudo das plantas encontrámos um curioso cogumelo com um cheiro horrível a carne podre e forma de falo cujo nome científico é Phallus impudicus. Quando lá regressámos na saída seguinte estava já a secar...
Phallus impudicus é uma espécie de cogumelo com um cheiro muito intenso que se sente a vários metros de distância.
Voltamos para o observar na saída seguinte, preparados com um guia de campo de cogumelos, mas estava já a secar. 

Investigando plantas

Habitualmente a maioria elementos do clube tem preferência pelos animais, principalmente vertebrados. Este ano, porém, todos foram entusiastas do estudo das plantas. As plantas da Trilha da Serra de Canelas constituíram, assim, um importante foco da nossa atenção. Convém salientar que, uma vez que o clube é de frequência voluntária e livre de quaisquer obrigações programáticas, as atividades desenvolvidas devem obedecer aos interesses dos seus participantes.
Identificação de uma planta a partir de um guia de campo. Este trabalho exige uma atenta observação dos pormenores: número de pétalas, de estames e carpelos, forma das folhas,...
O trabalho de identificação foi realizado a partir de guias de campo que organizam as plantas pela cor das suas flores: plantas com flores brancas, depois amarelas, azuis, roxas...
Esta forma de pesquisa facilita imenso o trabalho das pessoas que não são especialistas na área da botânica. A identificação das plantas foi feita por vezes somente até ao género, uma vez que a identificação até à espécie exige não só conhecimentos não adquiridos pelos elementos do clube como a utilização de chaves dicotómicas complexas e fastidiosas.

Identificação de um botão-de-ouro (Ranunculus sp.). 
Fumária (Fumaria sp.). Flores cortadas para identificação e posterior secagem.

A pesquisa realizada no guia de campo com vista à identificação da planta é sempre um trabalho de pares. Os dois elementos envolvidos vão trocando impressões, discutindo pontos de vista, até encontrarem uma  possível solução. O meu trabalho é confirmar ou não o seu palpite salientando, em caso de erro, alguma diferença entre a planta que estão a identificar e aquela que apresentam no guia como sendo do mesmo género ou espécie.
Silene sp. 

Os binóculos, esses andaram sempre connosco porque nunca sabemos o que pode aparecer e temos que estar sempre prontos. A natureza é cheia de surpresas!
Identificação da espécie Lamium maculatum.

Uma vez identificadas, foram colhidas flores das plantas para secar dentro do caderno de campo. Os cadernos de campo foram colocados em casa por baixo de livros pesados para prensar as flores.

Flor de Echium sp. colocada num caderno de campo para secar.
Mais tarde, nas escola, as equipas colaram as flores secas no caderno de campo, junto a uma estampa representativa da espécie, ou do género, e de informação entretanto recolhida: nome vulgar, nome científico, propriedades medicinais e/ou venenosas em alguns dos casos.
Colagem de uma planta que foi previamente seca e prensada num caderno de campo.
Registo no quadro do nome vulgar e científico de uma planta identificada na Trilha da Serra de Canelas. Este trabalho tem como objetivo o rigor ao nível da ortografia (os nomes científicos por vezes são complexos).
Caderno de campo de um dos elementos do clube.
O trabalho em torno das plantas permitiu-nos observar coisas muito interessantes e rever assuntos que estão a ser lecionados no 6ºano.

Pudemos observar inúmeros agentes polinizadores deliciando-se com pólen e/ou néctar das flores.

Alguns acabaram por servir de refeição às aranhas-das-flores que esperam pacientemente pelas suas vítimas. 
Efeito do vento na dispersão das sementes de dente-de-leão.

Há trabalho para além do estudo das aves...

As aves são sempre um dos grupos animais a que prestamos mais atenção. São relativamente fáceis de observar, depois do domínio da utilização dos binóculos, e causam sempre enorme fascínio nos elementos do clube quando se apercebem da enorme diversidade de formas e cores. No entanto, a nossa atenção incide também sobre outros aspetos igualmente interessantes. Fica aqui um pequeno apanhado:

Observação de um muro / aqueduto que outrora limitava uma propriedade e conduzia água da Serra de Canelas até aos campos agrícolas. Trata-se de uma construção singular que faz parte dos elementos interessantes incluídos na Trilha da Serra de Canelas.
Identificação de um loureiro através das propriedades aromáticas das suas folhas. 
Depois da identificação desta árvore, um sobreiro (Quercus suber), uma participante procura retirar uma amostra de cortiça para guardar na sua coleção de elementos naturais.
Musaranho-de-dentes-brancos-grande (Crocidura russula). Já no ano anterior tínhamos visto um exemplar desta espécie. Estava morto, molhado, no meio da erva. Colocámo-lo sobre uma pedra para o observar mais atentamente e proceder à sua identificação. Para avaliarmos o seu tamanho cortámos um pequeno ramo com igual tamanho para medir mais tarde. 
Musaranho-de-dentes-brancos-grande (Crocidura russula). Para saber mais informações sobre a espécie clicar AQUI.
Fase de pesquisa de elementos sobre a espécie.
Observação de uma toca de texugos (Meles meles) outrora ocupada. Ver informação AQUI e AQUI.

Registo da observação no caderno de campo.
Joaninha-de-sete-pintas (Coccinella septempunctata) prestes a levantar voo do dedo de uma participante do clube.

Chapim-rabilongo

Ave pequena e bastante discreta, o chapim-rabilongo forma pequenos bandos que voam de árvore em árvore, deixando-se geralmente observar sem grandes receios. É uma espécie inconfundível, assemelha-se a uma pequena bola com cauda comprida, devido ao seu corpo rechonchudo e bico curto.

É uma espécie localmente abundante, mais comum no interior norte de Portugal. Na região onde decorre o nosso trabalho foi observada pela primeira vez este ano e por uma única ocasião: em 26 de janeiro.


Observa o vídeo para descobrires (ou relembrares) como é uma espécie tão bonita. Se olharmos para as aves ao longe e sem atenção parecem todas iguais, no entanto... há muitas surpresas que nos esperam se lhes prestarmos a devida atenção.


Elementos de uma equipa em trabalho de campo. 

Enquanto observam as aves, estas alunas mantêm-se protegidas por um muro a fim de não afugentarem as aves.
Registo das informações obtidas sobre o chapim-rabilongo.

Bilhete de identidade:

Nome vulgar: Chapim-rabilongo.

Nome científico: Aegithalos caudatus

Filo: cordados

Classe: aves

Habitat: bosques, jardins e charnecas.

Comprimento: 13,5 - 14,5 cm.

Dimorfimo sexual: não existe.

Alimentação: insetos e sementes

Tipo de ocorrência: ocasional.

Carriça

Há medida que os anos de clube vão passando, cada vez é mais difícil encontrarmos espécies de aves que não foram ainda observadas em edições anteriores. No entanto, há sempre algumas novidades para revelar. Hoje vamos falar da carriça (Troglodytes troglodytes).



Não se trata de uma espécie particularmente rara ou em vias de extinção. É, na verdade, pouco comum na região abrangida pela Trilha, mas o facto de ser muito pequena e pouco colorida ajuda também a explicar a razão de nunca a termos avistado.

O trabalho associado à observação de aves exige silêncio, paciência e contenção de movimentos para não as afugentar.
A observação de aves tão pequenas e irrequietas como a carriça exige muita concentração e um bom domínio da utilização dos binóculos.
As carriças são inconfundíveis. São das mais pequenas aves da fauna portuguesa. Mantêm a sua pequena cauda muito levantada enquanto procuram ativamente pequenos insetos em árvores e arbustos que percorrem rapidamente. Acompanhá-las com binóculos nem sempre é fácil dada a sua agilidade!

Início do processo de pesquisa sobre a biologia da carriça.
Pesquisa de informação num guia de campo.


Bilhete de identidade:

Nome vulgar: Carriça

Nome científico: Troglodytes troglodytes

Filo: cordados

Classe: aves

Habitat: jardins, bosques, pântanos e costas marítimas rochosas.

Comprimento: 8 - 12 cm.

Dimorfimo sexual: não existe.

Alimentação: insetos

Tipo de ocorrência: desconhecida.

De regresso à escola...

Após várias sessões realizadas no campo, as equipas permaneceram na escola a fim de atualizarem os seus cadernos de campo. Este trabalho, já explicado em edições anteriores, implica a pesquisa de informações em guias de campo e a utilização de imagens representativas das espécies observadas...
Consulta de um guia de campo de aves para obtenção de informações sobre a biologia do peneireiro-vulgar.
Fase de registo das informações obtidas sobre a rola-turca.
Todo  trabalho é feito em equipa. Cada elemento fica encarregado de realizar a pesquisa sobre uma espécie e transmite aos restantes elementos as informações obtidas.
Registo no quadro do nome vulgar e do nome científico da espécie pesquisada  para que os restantes elementos os possam copiar sem erros ortográficos.
Partilha de informações  com os restantes elementos da equipa.
Registo das informações no caderno de campo.

Imagem do caderno de campo de um dos elementos do clube.

As aves observadas...

Tradicionalmente o estudo das aves ocupa no clube uma parte significativa do nosso esforço. Estes animais provocam sempre enorme fascínio a partir do momento em que os observamos através de binóculos e nos apercebemos na riqueza de cores, formas e comportamentos. Além disso estão presentes na região ao longo do ano contrariamente a outros animais, como répteis, anfíbios ou insetos que não se obervam na época mais frio do ano porque estão a hibernar ou simplesmente morreram e os seus ovos só vão eclodir quando surgir de novo o calor.

Elementos do clube em ação. 


Até ao momento temos já uma lista de observações bastante interessante:

- Cartaxo-comum (Saxicola rubicola)
- Bico-de-lacre (Estrilda astrild)
- Melro-preto (Turdus merula)
- Felosinha (Phylloscopus collybita)
- Alvéola-branca (Motacilla alba)
- Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis)
- Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula)
- Pombo-torcaz (Columba palumbus)
- Carriça (Troglodytes troglodytes)
- Rola-turca (Streptopelia decaocto)
- Chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus)
- Chapim-real (Parus major)
- Ferreirinha (Prunella modularis)
- Pardal-comum (Passer domesticus)
- Toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla)
- Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus)
- Serzino (Serinus serinus)

Bico-de-lacre (Estrilda astrild).


Para além destas espécies, a maioria já observada pelos elementos das três equipas, avistámos em alguns momentos magníficas AVES DE RAPINA: peneireiros (Falco tinnunculus) , gaviões (Accipiter nisus) e águias-de-asa-redonda (Buteo buteo),  espécies já observadas em anos anteriores. Numa das saídas pudemos assistir a um curioso bailado entre 5 águias-de-asa-redonda sobre a Serra de Canelas. Foi um momento verdadeiramente único na vida do clube!

Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo).