"... dou conta (...) que não podemos vencer esta batalha para salvar espécies e ambientes sem criarmos um laço afetivo com a natureza, pois não lutaremos por salvar aquilo que não amamos (mas só apreciamos de um modo abstrato)"

Stephen Jay Gould, 1993



Primavera na Trilha da Serra de Canelas

Com a primavera surgiram novos motivos de interesse na Serra de Canelas: campos floridos, novas espécies de aves que migraram de outras regiões do mundo, uma coleção infindável de insetos e répteis e anfíbios que despertaram do estado de hibernação. O trabalho das equipas tem sido muito diversificado: pesquisar anfíbios e insetos aquáticos em pequenos ribeiros e charcos, répteis, insetos e outros animais  entre a vegetação em prados húmidos e por baixo de pedras e troncos e, é claro, continuar o estudo das aves da região. Pena é que as aves de rapina começaram a ser avistadas com menos frequência,  somente uma observação de um peneireiro-vulgar no dia 20 de abril e de um gavião no dia 4 de maio.

Prospeção de animais num prado.

Observação de um pequeno gafanhoto. 
Utilização de redes para captura de anfíbios.
Tal como em anos anteriores, as várias equipas tiveram oportunidade de capturar tritões-de-ventre- laranja (ver aqui) utilizando para tal pequenas redes de aquário. Após a captura seguiu-se a sua identificação feita a partir de um guia de campo.

O trabalho de identificação é sempre realizado em conjunto.
Após a identificação os elementos puderam pegar nos tritões e observá-los em pormenor. É claro que foram tomados todos os cuidados para evitar prejudicar os animais! As mãos, por exemplo, foram frequentemente molhadas para manter a sua pele sempre húmida.

Manipulação de um tritão-de-ventre laranja.

O registo fotográfico também não podia faltar, afinal os smartphones estão sempre à mão!

Realização de registos fotográficos dos animais em estudo.
Muitos outros motivos de interesse poderiam ser referidos: já chegaram, por exemplo, os verdilhões (Carduelis chloris) e as andorinhas (Hirundo rustica) das suas migrações por terras distantes. A toca dos texugos este ano não está ocupada, não há vestígios da sua presença (pegadas, terra remexida, ...). Numa próxima saída vamos pesquisar melhor os arredores a ver se encontramos outras entradas.

Entrada de toca de texugo (Meles meles) não utilizada recentemente.

O tão mal afamado licranço!

Poucos animais têm uma tão má fama como o licranço (ou descanço como é conhecido na região de Gaia). Diz-se por exemplo que "mordedura de licranço dá sete dias sem descanço" por causa das dores provocadas por um suposto veneno. Apesar de todas estas histórias populares a verdade é que o licranço é um réptil completamente inofensivo (menos para pequenos animais como caracóis, lesmas e outros pequenos invertebrados que lhe servem de alimento!).

Licranço (Anguis fragilis) fotografado nos prados próximos da Ribeira de Canelas.

Embora parecido com uma cobra, o licranço é um parente próximo das lagartixas e dos sardões, é um "lagarto sem patas". O medo que provoca nas pessoas vem provavelmente da sua forma semelhante a uma serpente e, em certas regiões do país, da confusão estabelecida com o seu nome uma vez que por exemplo em Trás-os-Montes licranço é um sinónimo de escorpião.


Técnica de prospeção de animais habitantes de um prado.

Durante as saídas realizadas entre abril e maio fizemos várias observações de licranços. Encontrámos os animais em prados ou por baixo de pedras. A sua captura e manipulação causou grande sensação nos elementos dos grupos. Foi uma daquelas experiências que não se esquece!

Manipulação de um licranço. Todos os elementos experimentaram pelo menos fazer uma "festinha" no animal.

A pouco e pouco o medo foi sendo substituído pela curiosidade e no final já havia quem o quisesse adotar como animal de estimação!
Primeira experiência de manipulação de um licranço 
O trabalho de identificação da espécie foi realizada pelos membros da equipas a partir de um guia de campo de répteis e anfíbios.
No final, depois de devidamente identificados, os animais foram libertados nos locais onde foram encontrados.

Licranço colocado delicadamente sobre o guia de campo permaneceu por uns instantes imóvel para a fotografia!

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Bilhete de identidade:

Nome vulgar: Licranço

Nome científicoAnguis fragilis

Filo: cordados

Classe: répteis

Habitat:  prados, bosques com abundante cobertura vegetal e zonas agrícolas.

Comprimento: 23 - 29 cm

Dimorfimo sexual: o macho mais robusto e com cabeça maior. Fêmea com laterais escuras.

Alimentação: caracóis, lesmas, insetos e aranhas.

Distribuição: Europa, Turquia, Irão e Rússia.